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domingo, 19 de junho de 2011

ANÁLISE DO POEMA DE CARLOS DRUMMOND - POEMA DE SETE FACES


Análise do poema de Carlos Drummond
Poema de sete faces
(Alguma poesia)

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai Carlos! ser gauche na vida.

As casas aspiram os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
Não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu chamaste Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
Mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido feito o diabo.



Análise Estilística
Poema SETE FACES de Carlos Drummond de Andrade.
Introdução
As sete faces correspondem a sete estrofes, como se fosse um retrato em sete partes. Poema tipicamente modernista, de ruptura com as convenções. Descontínuo, inesperado, coloquial. Escritos com versos livres e com estrofes heterogêneas. Irônico, neste poema de descoberta do eu e do mundo Drummond se coloca como gauche - um desajeitado - mas cujo coração transborda, mais vasto que o mundo, com humor desencantado, sarcástico. Com uma secura que representa a emoção. Antilírica. Observe o tom de confidência da última estrofe, onde o poeta assume a emoção, embora a atribua ao conhaque e a lua... Assim, o Poema de Sete Faces ("Quando nasci, um anjo torto/ desses que vivem na sombra/ disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida") expõe o contato com um mundo caótico e múltiplo. "Isso caracteriza seu esforço poético", comenta o ensaísta, que vê nessa fase modernista uma ambigüidade de tom que supõe um "Eu reflexivo atrás do Eu". Nessa primeira fase, Drummond seguia a linha modernista ao criar poemas que provocam tanto riso como seriedade. Mas, apesar dessa verve que se aproveitava da linguagem oral extraída da fala cotidiana, o poeta não escondia o "Eu retorcido".Sendo o sofrimento beirando o desespero, o desajeitamento do indivíduo.
Análise estilística
  • Metalogismo
            Durante a apresentação da primeira estrofe podemos reconhecer o rompimento com os aspectos do discurso, através da ironia, “um anjo torto”, geralmente os anjos possuem características pautadas a partir da bondade, beleza, serenidade e não através do desvio de conduta de procedimentos que nos leve a contemplação da luz, Deus. Assim, este fragmento do 1º. Verso demonstra o paradoxo da apresentação do anjo, pois anjo é claridade, bondade e não o desvio irônico citado pelo poeta. Ainda pertinente à apresentação irônica do autor destacamos o verso “disse: Vai Carlos! ser gauche na vida”, exaltando a palavra gauche.Aplicada ao ser humano, tendo como significado aquele que sente às avessas, torto, que não consegue estabelecer uma comunicação com a realidade.relação irônica do poeta.

            Na segunda estrofe destacaremos a presença da prosopopéia, proporcionando características de seres animados a seres inanimados “as casas aspiram”, ou dando características humanas a objetos. Neste caso a casa deseja o homem, sendo uma característica humana.
            O segundo e terceiro verso, com destaque as palavras homem e mulher, representam a relação de contrariedade, a antítese proporcionando idéia contrária através da utilização das palavras. 
            Entretanto, na terceira estrofe destacamos a hipérbole, o exagero da utilização da expressão com intuito de realçar uma idéia. Assim destacaremos os versos a seguir “O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas”. Nestes versos percebemos ainda a presença da ironia sendo seqüência na quarta  estrofe onde a presença da ironia se evidencia, quanto demonstra que o homem se esconde atrás do bigode, por esse ser tão grande, exagerado que consegue esconder seu próprio dono. “O homem atrás do bigode”. Reforçando também o tamanho dos óculos do homem que ocupa um espaço superior ao ideal, referente ao verso “o homem atrás dos óculos e do bigode”.
  • Metataxes

A quinta e sexta estrofes retratam a presença da anáfora e a repetição. A anáfora é representada através de uma ou mais palavras no início de versos, tais como no exemplo do verso “se sabias que eu não era Deus/ se sabias que eu era fraco”, visto que ocorre a mesma repetição inicial, através da anáfora, na sexta estrofe nos versos “Mundo mundo vasto mundo /Mundo mundo vasto mundo/Mais vasto é meu coração”. Percebemos ainda nestes versos a repetição do termo vasto, como recurso lingüístico, tendo em vista recursos diversos. Distingui-se do polissíndeto por ser a reiteração de qualquer palavra e não apenas a conjunção coordenativa. A riqueza do da estrofe é tão intensa que podemos ainda destacar o Rima no final da palavra (mundo, Raimundo, solução e coração).

 REFERÊNCIAS
CHAVES, Rita. Carlos Drummond de Andrade. São Paulo:Scipione, 1993.




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